Incrementando

#74Tolerância zero ao prejuízo! (Parafraseado de um artigo da revista Exame)

Tolerância zero ao prejuízo! (Parafraseado de um artigo da revista Exame)

Recentemente eu li um artigo na revista Exame que contou como a Kanui, uma empresa de comércio eletrônico voltada a artigos de esportes de ação como surfe, montanhismo etc., conseguiu ser um dos primeiros negócios focados na internet a conquistar equilíbrio financeiro.

E, o que mais chamou a minha atenção, e resolvi compartilhar com os leitores deste boletim, é uma postura adotada por seus gestores de não tolerar nenhuma prática que tenha algum risco de gerar prejuízo para a empresa. O exemplo utilizado para demonstrar esta cultura da empresa é o modo como lidam com os estoques.

Na verdade, o que fazem para não ter sobras, e assim não precisem fazer as tradicionais “queima de estoques”, onde na maioria das vezes, vende-se por preços de custo, e até abaixo. Então, as compras de mercadorias de revenda são cuidadas como um processo estratégico, onde há profundos estudos, análises, e são realizadas por praticantes dos esportes, ou seja, quem compra também é cliente.

Um outro fato muito interessante é que para fazer com que todos fiquem sempre preocupados se estão ou não adotando alguma prática com grande risco de gerar prejuízo, todos os colaboradores recebem treinamento sobre finanças. Em outras palavras, conforme já escrevi algumas vezes aqui no INCREMENTANDO, se há o desejo de que exista na empresa preocupação com os resultados é preciso desenvolver a Consciência, Visão e Cultura de Resultados de todas as pessoas.

Até porque é óbvio, como alguém vai se preocupar com algo que não conhece? Por acaso alguém se preocupa com a quantidade de sal enquanto não conhece o que é pressão arterial, o que significa para a saúde, as medidas e o prejuízo que esse alimento pode causar à vida de uma pessoa?

Muito provavelmente, no exemplo do primeiro parágrafo, a equipe entende o que é Necessidade de Capital de Giro (NCG), o impacto desta no caixa e como os estoques a influenciam, ou seja, compreendem que um volume a mais de materiais e mercadorias no almoxarifado pode gerar problemas de caixa.

Além disto, para não ficar de fora das tradicionais temporadas de liquidação, negociam com fornecedores produtos com custos baixos específicos para tal finalidade.

Toda esta reflexão me levou a escrever este texto, porque percebo que ainda há um grande número de negócios que não interromperam esse ciclo vicioso.

Continuam colecionando práticas que acabam gerando prejuízos, a equipe não entende porque não se mede e não se discute resultados. Em alguns se mede, mas não se discute. Em outros não se mede o que é fundamental.

No boletim 73 eu disse: “…não vai ter vento…nós teremos que remar mais…”. Eu penso que em nenhum momento as empresas poderiam permitir práticas com alto risco de gerar prejuízo, mas muito menos agora. Um dos nossos clientes em função de um problema no faturamento, fruto de uma mudança em uma das suas unidades de negócio, teve que se debruçar sobre as despesas. E o que descobriram?

Que durante o ano de 2014 houve um desperdício mensal de aproximadamente 30% dos seus gastos, ou 8% do faturamento. Ou seja, o lucro poderia ter sido 8 pontos percentuais maior.

E por que isto aconteceu? Houve uma certa acomodação em função de bons resultados no ano anterior. E quantas práticas podem estar diminuindo os resultados no seu negócio??

 

Índices e Diagnóstico de Janeiro de 2015

LUCRATIVIDADE
  TOTAL INDÚSTRIA VAREJO SERVIÇO***
Margem de Contribuição 31,1% 36,0% 22,4% 47,1%
Lucratividade Operacional -4,7% -1,0% -10,6% 5,4%
Lucratividade Líquida -6,3% -2,9% -12,4% 5,0%
PE* Operacional 115,1% 102,8% 147,4% 88,5%
PE* Líquido 120,1% 108,0% 155,3% 89,4%
LÍQUIDEZ
NCG**/Recompensa (Faturamento) 2,20 1,49 3,18  
Variação da NCG/Lucro Operacional **** **** ****  
Formação de Caixa Operacional/Lucro Operacional **** **** ****  
Formação de Caixa Total/Lucro Operacional **** **** ****  
Ciclo Econômico e Financeiro (em dias) 185 348 22  
Prazo de Recebimento de Clientes (em dias) 84 125 42  
Prazo de Estoques (em dias) 233 284 182  
Prazo de Pagamento de Fornecedores (em dias) 131 61 201  
Inadimplência/Total de Contas a Receber 19,1% 22,4% 15,8%  

*PE – Ponto de Equilíbrio          ** NCG – Necessidade de Capital de Giro           ***Regime de Caixa       ****Em função do lucro operacional ter sido negativo, não faz sentido calcular estes índices da maneira que fazemos e com o propósito que temos neste boletim. Isto porque o objetivo desses indicadores é demonstrar a utilização do lucro. Isto é, quanto deste foi alocado em investimento operacional (variação da NCG), e/ou em outros investimentos (diferença entre formação de caixa total e de caixa operacional) e/ou fica acumulado no caixa.

Eu acredito muito que quando queremos muito alguma coisa, nós conseguimos. Os resultados de lucratividade da Indústria e do Varejo no primeiro mês do ano comprovaram isto. Afinal de contas, todos falaram muito sobre as dificuldades de 2015, então aconteceu.

Desde 2009 foi a primeira vez que neste período os dois segmentos obtiveram prejuízo operacional juntos neste. Serviços foi o segmento que “salvou” o mês com 5,4% de lucro operacional.

Este, menor do que os 9,0% de dezembro, provavelmente por causa de uma queda no volume de negócios e/ou aumento dos gastos com a estrutura de apoio, já que a diminuição da margem foi menor: de 49,3% para 47,1%.

As empresas exclusivamente comerciais podem atribuir parte deste péssimo desempenho (-10,6%) a redução da margem de contribuição: de 32,3% em dezembro de 2014 para 22,4% no mês de janeiro.

Eu digo parte, porque com essa margem o lucro operacional de dezembro foi de 11,8%, ou seja, a redução de 10 pontos percentuais da margem tendem a não ser a única causa da diminuição de 22,4 pontos percentuais da lucratividade.

Portanto, as famosas promoções deste período não foram suficientes para cobrir os gastos que via de regra aumentam nessa época.

Já as empresas que industrializam seus produtos, apesar de também terem obtido prejuízo operacional, este foi menor do que no mês anterior: -3,5% para -1,0% agora.>

Portanto, as famosas promoções deste período não foram suficientes para cobrir os gastos que via de regra aumentam nessa época.

O aumento das margens (de 34,7% para 36,0%) também pode ajudar a explicar esta melhora de desempenho.

Apesar de não ter sido possível medir resultados de alguns indicadores de liquidez, há duas questões importantíssimas de serem ressaltadas.

A primeira vai de encontro ao texto da primeira parte: as empresas dos dois segmentos estão começando o ano bastante estocadas conforme pode ser observado nos prazos de estoques: 284 dias na Indústria e 182 no Varejo. A outra, é a inadimplência, que subiu pelo terceiro mês seguido: 19,1% do que está em aberto está atrasado.