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#7Liquidez, indicador da gestão da riqueza econômica

Liquidez, indicador da gestão da riqueza econômica

Enquanto o lucro é o indicador que mede o desempenho das ações de uma empresa na geração da riqueza econômica, o índice de liquidez permite avaliar a eficácia na gestão desta riqueza, já que demonstra o quanto destes recursos se transformam em disponibilidades para pagar as contas nas datas dos seus vencimentos.

O que acontece é que a riqueza criada pelo lucro, conforme já foi dito, não necessariamente é toda convertida em dinheiro em caixa. Eu comparo esta dinâmica que acontece entre lucro e caixa a uma corrida de obstáculos, a riqueza é o corredor que só chegará à reta final (o caixa) se conseguir ultrapassar os obstáculos.

Estas barreiras por sua vez são os destinos que se pode dar ao lucro: ativo imobilizado, quando são realizados investimentos em máquinas, equipamentos etc.; duplicatas a receber, quando as vendas não são recebidas à vista; estoques, quando as compras de materiais e mercadorias de revenda são maiores que as vendas; e pode também deixar de ser uma riqueza da empresa, quando houver distribuições e retiradas.

Portanto, lucro não é caixa. Eu tenho constatado que há uma falta de compreensão sobre este assunto nas empresas em geral. Tenho percebido também que há uma razoável preocupação com a lucratividade, mas um descuido com a gestão da liquidez.

O problema é que esta negligência pode comprometer a caminhada progressista da empresa.

Já que um desequilíbrio na utilização do lucro pode culminar com uma dificuldade no pagamento das contas, podendo criar um consumo extra da riqueza que são as despesas financeiras.

Então surge a pergunta, como a equipe pode gerenciar a formação de caixa da sua empresa? Para entender onde as pessoas podem interferir, antes é preciso ter uma compreensão melhor das decisões que geram e as que consomem caixa.

As fontes geradoras de caixa são: lucro, venda dos ativos imobilizados (máquinas, equipamentos etc.), empréstimos bancários e aporte de recursos por parte de sócios, acionistas, investidores etc. Estas decisões relacionadas às fontes também podem gerar consumos de caixa.

Porém, há uma dinâmica operacional das empresas que é uma importante “consumidora” de caixa e onde existe o maior potencial de atuação da equipe: ao comprar o material ou insumos para a realização de um serviço, este fica um tempo “parado” no estoque ( e em produção nas indústrias) e depois que ocorre a venda tem o tempo que o dinheiro fica “na mão” do cliente sob a forma de duplicata, só que durante esse período entre a compra e o recebimento, normalmente ocorrem os pagamentos dos fornecedores.

Portanto, as ações das pessoas com relação ao mercado e à gestão dos recursos internamente interferem na quantidade e nos prazos em que os recursos da empresa ficam fora do caixa, aplicados em estoques e no cliente.

 

ÍNDICES e Diagnóstico

LUCRATIVIDADE

 

TOTAL

INDÚSTRIA

VAREJO

SERVIÇO***

Margem de Contribuição

26,2%

23,4%

28,2%

37,4%

Lucratividade Operacional

7,8%

11,8%

5,1%

-8,4%

Lucratividade Líquida

7,1%

11,8%

3,8%

-12,4%

PE* Operacional

70,2%

49,8%

82,0%

122,4%

PE* Líquido

73,0%

49,8%

86,4%

133,0%

LÍQUIDEZ

NCG**/Faturamento

160,1%

190,2%

115,6%

 

Variação da NCG/Resultado Operacional

359,9%

407,0%

199,1%

 

Formação de Caixa Operacional/Resultado Operacional

-253,6%

-297,4%

-22,84%

 

Formação de Caixa Total/Resultado Operacional

-508,1%

-617,5%

-134,0%

 

Ciclo Econômico e Financeiro

55

65

46

 

Prazo de Recebimento de Clientes

39

53

24

 

Prazo de Estoques

51

38

65

 

Prazo de Pagamento de Fornecedores

35

26

43

 

Inadimplência/Total de Contas a Receber

10,6%

11,3%

10,0%

 

*PE – Ponto de Equilíbrio          ** NCG – Necessidade de Capital de Giro           ***Regime de Caixa

 

O Varejo e os Serviços tiveram uma queda significativa em todos os índices de lucratividade, o que inclusive afetou os números globais. Serviços foi o segmento que apresentou a queda mais preocupante, e como diz o amigo Silvio Bugelli, essas empresas foram vaiadas pelo mercado.

Eu recomendo que façam uma profunda reflexão com a equipe sobre os porquês dessa desconexão entre o que está sendo oferecido e o que o mercado está enxergando e pensem também sobre os talentos e a aplicação dos recursos.

O desempenho do Varejo, com menor intensidade é verdade, também foi inferior. Aqui a reflexão também é necessária. A Indústria teve resultados muito bons, já que além do lucro ter sido maior, os gastos financeiros também diminuíram.

A gestão de caixa no mês de julho não foi nada satisfatória, já que praticamente todos os índices foram inferiores ao período anterior.

A NCG e sua variação foram maiores que a maioria dos meses anteriores. Todos os segmentos consumiram caixa, em média 508% a mais do que as empresas geraram de lucro.

O consumo operacional também cresceu, conforme pode ser observado através dos prazos que demonstram que os pagamentos aconteceram em média 55 dias antes dos recebimentos.

Neste sentido foi a Indústria quem determinou essa piora, já que seu ciclo mais do que dobrou enquanto o do Varejo praticamente permaneceu inalterado.

Esses resultados mostram três questões importantíssimas que devem ser debatidas: o mercado não está gostando do que está sendo oferecido e em função disto está solicitando mais tempo para pagar; a gestão dos processos internos não está sendo eficaz fazendo com que os materiais fiquem muito tempo em estoques e/ou no processo produtivo; e as negociações com os fornecedores estão desconectadas com as necessidades das empresas.

Em contrapartida vale ressaltar que a inadimplência caiu significativamente. Mas, por outro lado os gastos extra-operacionais continuam sendo maiores do que a capacidade das empresas, como pode ser observada pela diferença entre a formação de caixa operacional e a total. Não deixem de analisar e discutir sobre esta questão também.