Incrementando

#64Quer aumentar o caixa ? Cuide dos Estoques

Quer aumentar o caixa ? Cuide dos Estoques

Todos sabemos que hoje o maior valor de uma empresa são os conhecimentos das pessoas que nela trabalham, que o ser humano é o elemento mais importante no mundo dos negócios, pois são as pessoas que criam e entregam os produtos e os serviços. No entanto, eu quero dedicar este boletim ao maior patrimônio físico da maior parte das empresas varejistas e industriais: os estoques.

Eu estou surpreso que nos dias de hoje, quando começamos trabalhar as informações de estoques nos projetos de consultoria que executamos, as imprecisões são bastante significativas, e muito semelhantes às que eu encontrava há 20 anos atrás, quando iniciei a minha carreira de consultor. Os números não “batem” nunca, os inventários são normalmente tratados como uma tarefa chata e secundária e, há até algumas empresas que não possuem nenhuma informação sobre o que está armazenado em seus almoxarifados.

Detalhe, não estou me referindo a negócios muito pequenos e nem a empresas que foram recentemente fundadas, ao contrário, empreendimentos com 100, 200 funcionários, faturamentos de vinte, trinta milhões por ano. Por que será que isto acontece? Por que será que gestores e líderes empresariais estão sempre em busca de recursos em instituições financeiras, e não dão muita atenção a uma enorme fonte de recursos que tem na própria operação?

Eu tenho constatado que ainda há dificuldade por parte dos gestores, e em alguns casos até desconhecimento, em correlacionar estoques com a liquidez. Via de regra, quando há problemas de escassez de caixa nas empresas, o comum é associar à falta de vendas e/ou baixa lucratividade. Poucas vezes encontrei gestores desenvolvendo Metaprojetos (planos) para atuar com os estoques. Estoques representam um investimento de dinheiro.

Enquanto materiais e mercadorias estiverem armazenados nas prateleiras, os valores que foram pagos aos fornecedores não retornam para o caixa da empresa.

O raciocínio é simples: se o prazo médio de giro do estoque for de 150 dias (este, e os demais que vou utilizar neste texto, são médias apuradas em março), isto significa que um boleto de cobrança só é emitido cinco meses depois.

E, se o cliente paga em média em 30 dias, isto implica que só depois de 180 dias haverá alguma entrada na conta da empresa, e se os fornecedores concederem 45 dias para que a empresa pague suas compras, então terá que fazer desembolsos 135 dias antes (150 + 30 – 45) do dinheiro entrar.

Porém, qualquer negócio precisa de uma estrutura para “atender” clientes, ou seja, também há desembolsos com salários, telefonia etc. Estoques precisam ser gerenciados. Existem alguns motivos para isto, como evitar perdas, necessidade de espaço físico etc., mas o principal está relacionado com a liquidez. Estoques são como aplicações financeiras sem rendimento, então quanto antes for possível resgatar melhor.

As empresas precisam saber exatamente o que existe em seus almoxarifados; devem criar Metaprocessos para inventariar estoques periodicamente e, fundamentalmente, todos os envolvidos devem ter a consciência do impacto deste no caixa do negócio.

Por outro lado, a liderança deve se responsabilizar por criar estratégias junto às áreas comercial e compras para evitar que o dinheiro fique “empacado” (estoques), e se isto já estiver ocorrendo, transformá-los em dinheiro em caixa.

 

Índices e Diagnóstico de Março de 2014

 

LUCRATIVIDADE

  TOTAL INDÚSTRIA VAREJO SERVIÇO***
Margem de Contribuição 31,8% 35,0% 26,5% 37,2%
Lucratividade Operacional 4,9% 6,9% 1,5% 8,5%
Lucratividade Líquida 3,2% 4,9% -0,4% 8,4%
PE* Operacional 84,6% 80,3% 94,3% 77,0%
PE* Líquido 89,8% 85,9% 101,4% 77,4%
LÍQUIDEZ
NCG**/Recompensa (Faturamento) 2,33 2,51 2,78  
Variação da NCG/Lucro Operacional -3,78 0,31 -54,29  
Formação de Caixa Operacional/Lucro Operacional 4,78 0,69 56,60  
Formação de Caixa Total/Lucro Operacional 5,78 2,97 44,63  
Ciclo Econômico e Financeiro (em dias) 139 145 134  
Prazo de Recebimento de Clientes (em dias) 32 44 19  
Prazo de Estoques (em dias) 152 147 156  
Prazo de Pagamento de Fornecedores (em dias) 44 47 41  
Inadimplência/Total de Contas a Receber 21,2% 23,4% 18,9%  

 

*PE – Ponto de Equilíbrio          ** NCG – Necessidade de Capital de Giro           ***Regime de Caixa 

 

Será que o segmento das empresas industriais está retomando o rumo da lucratividade de uma empresa progressista? Pois, 6,9% foi o maior resultado operacional desde outubro de 2013, quando este índice foi de 11,4%. Se a liderança do negócio não souber responder à essa pergunta, significa que o mercado comprou mais do que a empresa vendeu.

Não há nada de errado em ser comprado, o problema é, só ser comprado. Porque desta forma não é possível escolher o cliente do foco, fica muito complicado para elaborar planejamentos e os resultados ficam dependentes do “humor” dos clientes. Portanto, se isto estiver acontecendo, a minha sugestão é que a liderança faça uma boa reflexão sobre essa questão, e desenvolva Metaprojetos para mudar essa característica do negócio.

O Varejo por sua vez chegou ao terceiro mês consecutivo com lucro operacional muito próximo ao ponto de equilíbrio: janeiro, 0,7%; fevereiro, 2,3% e março, 1,5%. Não é preciso voltar a dizer que nenhum negócio deve aceitar uma média de 1,5% de resultado operacional em três meses.

Tudo deve ser questionado. Já as empresas exclusivamente prestadoras de serviços vêm demonstrando um comportamento bastante curioso em 2014.

Um bom lucro em janeiro (19,0%), prejuízo em fevereiro (-6,0%) e voltaram a ter resultados positivos em março, mas pouco menos do que a metade de janeiro: 8,5%. Tudo também deve ser questionado para encontrar as causas dessas oscilações.

Por outro lado, o desempenho da liquidez foi bom para os dois segmentos, conforme pode ser observado no resultado de 4,78 no índice Formação de Caixa Operacional/Lucro Operacional, ou seja, uma empresa que teve R$ 100 mil de lucro, então gerou R$ 478 mil de caixa (4,78 x 100.000). É importante verificar no resultado do indicador Formação de Caixa Total/Lucro Operacional (5,78) que as empresas de fato em 31 de março estavam com seus saldos de caixa e bancos maiores do que no dia 01.

Os quatro principais fatores que explicam uma empresa ter uma formação de caixa total maior do que a líquida são: aporte de capital por parte de sócios/acionistas, venda de um ativo imobilizado, resgate de aplicações e captação de recursos junto a instituições financeiras.

Agora, eu vou voltar a insistir que as empresas precisam cuidar melhor da inadimplência. Afinal de contas, é muito expressivo possuir 21,2% em atraso de tudo que tem a receber.